Entrevista: Wilson Vieira
Por Eloyr Pacheco
02/07/2005
Wilson Vieira é um batalhador (venceu no exterior como desenhista de Histórias em Quadrinhos mas é pouco conhecido aqui no Brasil) corajoso (deixou tudo aqui para morar sozinho na Itália e depois, de volta ao Brasil, deixou o trabalho de desenhista e professor para se dedicar somente aos roteiros). Ele mesmo mandou um e-mail para o site SoBReCarGa procurando divulgar Cangaceiros - Homens de Couro, que me foi repassado. Imediatamente interessei-me pelo seu trabalho e lhe escrevi. Wilson me respondeu prontamente e combinamos uma entrevista. O resultado do nosso papo você pode conferir a seguir.
Eloyr Pacheco - Como foi que você decidiu ir para a Itália e acabou trabalhando com personagens como Diabolik, Tarzan e Homem-Aranha?
Wilson Vieira - Decidi ir para lá, estudar inicialmente História/Arqueologia, mas acabei, por inúmeros motivos, estudando Artes. Quanto aos personagens citados, foi uma simples conseqüência de trabalhos que me foram propostos pelo Staff di If. Desenhava-se o que caía nas mãos: super-herói, western, aventura, terror, ficção, etc...
Como você encarava a produção de gêneros tão distintos? Você trabalhava com mais de um estilo de arte?
Encarava com muita naturalidade, pois fomos muito bem treinados para isso; fazer estilos diferentes nos dava até um sopro novo de criatividade. Sim trabalhava, não só eu, mas todos os artistas do Staff di If, que era conhecido por sua versatilidade e competência. Só para o conhecimento de todos, eu nunca fiquei sem um dia de trabalho durante os anos que lá desenhei. Trabalhávamos com total liberdade, respeitando sempre a data de entrega dos trabalhos.
Eu gostaria de saber um pouco mais sobre a série western Gringo; os desenhos me chamaram a atenção. As histórias do personagem ficaram inéditas?
Bem, do Gringo só foi desenhada a primeira história (75 páginas) e feito, também, uma animação para a apresentação do mesmo às editoras. Sim, ambos são inéditos. Gringo, agora transformou-se no projeto Gash com 16 histórias, que já escrevi e estou vertendo para a língua Italiana. O personagem terá a sua representação gráfica baseada na imagem de um ator ítalo-brasileiro; Gash adora o café brasileiro e não faz o gênero de herói... pois é uma cria da Guerra Civil Americana... confio muito nessa série, é uma proposta de western séria e diferente dos demais já publicados.
Ator Ítalo-brasileiro... (Hã?!) Você não pode dizer quem é? Você vendeu o projeto de Gringo(hoje Gash), para a Itália?
Claro que posso... é o Antony Steffen... o nosso Antonio de Teffe, ele fez vários spaghetti-western, sua figura lembra muito o Clint Eastwood, só que numa versão mais bruta. Não, o projeto Gash não foi vendido ainda, espero com muita ansiedade que um bom desenhista brasileiro encare esse desafio comigo, em parceria, ou seja fazer um trabalho digno de exportação, se não, aí sim, tentarei um desenhista italiano... o que seria um pecado, pois temos talento de sobra para realizarmos esse projeto. Agora é só esperar, para ver!
Contar a história de Lampião em vinte volumes é realmente um grande desfio. Como é o projeto Homens de Couro? Todos os volumes estão desenhados?
Cangaceiros - Homens de Couro, é um projeto para 20 ou mais volumes, já escrevi 4 histórias (fechadas) e estamos na dependência dos resultados comerciais do primeiro volume, para prosseguirmos com o projeto e com desenhistas diversos.
Optar por deixar de desenhar para se dedicar somente aos roteiros é uma decisão difícil. Entendo que o trabalho de pesquisa para o Cangaceiros deve ter tomado muito do seu tempo e da sua energia, o que deve tê-lo levado a essa decisão. Valeu a pena?
Com o tempo como desenhista, tive (óbvio) que ilustrar propostas de vários roteiristas. Pouco a pouco, fui sentindo a necessidade de criar meus próprios personagens, de ter um envolvimento maior com as histórias, pesquisar linguagens, ambientes diversos, diferentes épocas com seus usos e costumes. Isso me interessou muito mais... daí a escolha. E não foi nada difícil não, mas sim, muito prazeroso... puxa, se valeu a pena e como!
Como surgiu a sua parceria com o CLUQ - Clube dos Quadrinhos?
A parceria duradoura com o CLUQ, surgiu no final dos anos 1980, quando conheci seu editor, o jornalista Wagner Augusto, portanto é um "casamento" com mais de 20 anos de convivência... daí surgiu a publicação do Cangaceiros, minhas traduções de Ken Parker e espero que continue assim... pois temos a mesma afinidade de idéias, valores e visão de mundo, sob a ótica das HQS.
O Bigorna agradece a Wilson Vieira pela entrevista (concedida em 4 de dezembro de 2004).